
Fiquei amedrontado, imóvel e pálido. Aquelas doces e ao mesmo tempo crespas palavras não me saíam da memória: “A tua vida é consumada por obstáculos e ninguém os consegue derrubar por ti, já que a vida é tua e de mais ninguém”.
A afirmação não queria soltar-se do meu pensamento, repetiu-se vezes sem conta, quando de súbito, um apagão repentino se consumou na minha memória, desmaiei.
Acordei instantes depois, sentia um enorme ardor nos espelhos da minha cara, esfreguei-os, mas o fervor infernal que sentia, aumentava de intensidade há medida que o tempo ia caminhando na sua longa estrada.
Derramei lágrimas, gotas cristalinas e reluzentes juntavam-se e completavam rios que desciam pela meu rosto, até cessarem num raro areal vermelho.
Ao ver tal visão, levantei-me e observei em meu redor o que se estava a suceder. Em frente, via um extenso oceano límpido que parecia não ter um final próximo. Nos restantes lados, a areia avermelhada reinava. Os grãos da fina areia, estendiam-se por longínquos caminhos e mais uma vez, tal como o oceano, não tinha um final há vista.
O astro-rei, expulsava dentro de si os seus raios mais fortes, o calor que se sentia naquele desconhecido lugar era avassalador.
Sentia-me desorientado, o que se estava a passar comigo não era, de todo, normal.
Uma vibração forte, deu-se dentro da minha cabeça, novas palavras invadiram a minha mente e reapareceram de novo momentos depois.
A entoação da voz era, mais uma vez, melodiosa. Quem proferiu “Ao longo da jornada da tua vida, irás sentir-te só, alguns dos caminhos serão percorridos por ti, sozinho, serás tu e a tua obscuridade, mas lembra-te que chegas mais, rapidamente, só, ao topo, do que com falsos aliados” era, sem dúvida, uma figura com experiência de vida e que estava, ali para me ajudar.
Admiravelmente, eu mantive-me calmo e não saí do mesmo sítio. Sentei-me na dócil e quente areia, e permaneci o olhar para o mar, ali estava ele, da mesma maneira que o encontrei.
A minha vista voltou-se a fechar. Nessa altura o relógio que tinha no pulso, oferecido pelo meu pai, marcava umas horas estranhas. Era como se tivesse parado no tempo.
Quando voltei a acordar, um outro sítio acolhia-me. Era um local estranho e escuro, onde apenas se via um pequeno feixe de luz, a apontar para um objecto que eu não conhecia.
Fui caminhando para chegar ao feixe, um arrepio na espinha fez-se sentir em mim, seria medo?
Antes de conseguir alcançar a luz, memórias do passado surgiram num ápice. Memórias já esquecidas pela mente, foram relembradas pelo coração.
Os minutos que se seguiram foram de emoções fortes. Observei e escutei, risos e choros, gargalhadas e suspiros, convívio e solidão… Relembrado o que estava esquecido, o meu objectivo era alcançar o feixe de luz. Consegui-o.
Nesse momento, fiquei estático, uma nova declaração invadiu, de novo, a minha mente. “Por mais que tentes desprezar o passado, ele renascerá no teu coração. Este, fará ver-te que o Passado não deve ser esquecido, com ele aprendemos a corrigir os erros e a melhorar as nossas qualidades para o Futuro”.
De repente, tudo se apagou. Um som ruidoso entrava dentro da minha cabeça. Era o meu provocador despertador.
Quando caí em mim, percebi que tudo tinha sido um sonho. Mas de onde terá vindo aquela voz? Será a mente a querer dar-me algum sinal? Ou será o coração a querer mostrar-me que errei e que o melhor é corrigir os “tropeções” cometidos?
Não sei responder-me, mas as doces palavras ditas por alguém, serão levadas comigo, não na memória, mas sim no coração, onde este as guardará até ao fim da minha vida.
Rui Fernandes
3 comentários:
gostava de ter a tua imaginação e dedicação de escrever...
por vezes a escrita sai-me melhor quando estou numa má onda...
talvez use apenas a escrita para desabafar...
Eu só digo uma coisa: nada acontece por acaso.
Já escrevi o texto. Quando apareceres no msn mando-to.
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