domingo, 7 de junho de 2009

Actualiação do Blog

Eu, Rui Fernandes, fundador dos Blogues "Escrever sem Segredos", "Redacção do Escrever sem Segredos" e "Escrever sem Segredos Histórias" vai inutilizar por um período de uma semana o último blog referido.
Em causa está o modelo do blog, tem muito texto e poucas imagens, no fundo tenho de tratar o design do Blog.
As novas histórias serão publicadas no Escrever sem Segredos, a nova (ainda em construção) - 12h para a Salvação.

As minhas desculpas pelo incómodo.
Rui Fernandes

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Compilação, a minha parceria e as regras...

Diana Vanessa Freitas Nogueira, autora do blogue Coração de Amores (Im)Perfeitos, é a minha parceira na compilação "Amor Índico"
Decidimos que cada um vai escrever uma só página e alternadamente, ou seja, eu escrevi a primeira, a Diana escreveu a segunda e assim sucessivamente.
A Diana foi uma pessoa que conheci através do MSN e fiquei agradavelmente surpreendido.
A diferença entre a escrita da Diana e da minha é monumental, a Diana escreve muito bem, eu (não escrevendo mal) mas tenho de me esforçar para chegar ao mesmo patamar da Diana.
Esperamos que esta compilação no fim seja de acordo com as nossas expectativas, até agora está a ser.

Rui Fernandes

2ª página da Compilação "Amor Índico"

Enquanto descia as escadas, Joana sentia no coração o peso de todos os séculos da Índia, como se todos os deuses e presságios lhe houvessem cortado o peito em partes desiguais. No cimo da escadaria, todos os deuses a empurravam para um abismo de amor desconhecido, escrito no alcatrão da rua onde encontrara o indiano dos seus sonhos. Ao mesmo tempo, era como se fosse reencontrar o pedaço solto de uma outra vida, de um outro sonho.
Quando entrou no salão, os olhos severos de beleza indiana penetraram Joana e cortaram-lhe os pensamentos soltos. Os olhos de Indja eram os olhos verdes mais bonitos que já vira, como se todas as folhas de Verão se escondessem neles perante a ameaça leve do Inverno. Quando entrou, Indja sorriu-lhes e Joana retribuiu desconfortável.
- Adil sente-se bem. – Precipitou-se a moça.
Adil. O nome dele ecoou na cabeça de Joana e o mundo perdeu todos os nomes possíveis para se resumir a quatro letras. Adil. E quando pensava no nome dele, era como se uma outra parte de si lhe fosse devolvida.
- Então está bem, o seu irmão?
- Não se lembra de nada. Não se lembra dos dias em que vendia sonhos nas ruas e desconhece as mãos que leu dias e dias a fim. Esqueceu as sinas mais recentes e apagou as mais antigas. Desconhece as linhas das mãos e não sabe mais distinguir o sabor da canela do açúcar. Não sabe sequer os pregões com os quais vendia flores de lótus. É um homem em branco com a memória bloqueada. Apesar disso… Adil lembra-se do amor que sente por si.
Os olhos de Joana abriram-se. Amor? Amor simplesmente de amor?
- Ele estava inconsciente. Não pode lembrar-se de mim. – replicou Joana.
- Os sonhos não adormecem com o corpo. Os sentidos não se apagam nunca e o amor também não. O meu irmão lê destinos que estão escritos em mãos. Há os que estão traçados em ruas. Ele sabe quem és, Joana. E amou-te antes mesmo de o conheceres.
Que homem era aquele afinal? Um amante de sinas que interpretava mãos e descodificava destinos? Que direito tinha ele de a guardar numa história que não existira? Quem, quem era ele para a guardar tão intensamente num peito que ela nunca conhecera e nunca amara antes senão naquela rua?
- Ele amou-te, Joana. – sorriu Indja. – Vendeu-te uma flor de lótus na rua e regressou todos dias só para te ver passar entre as estrangeiras bem vestidas. Ofereceu-te a alma no dia em que te vendeu a flor de lótus naquela mesma rua. Disse que lhe sorriste nesse dia. E todos os dias lia a sina a pessoas comuns na esperança de que um dia pudesse ler a tua. E disse que jamais esqueceria a mulher daquele sorriso.
Joana olhou pela janela. Num momento, perdera o corpo e alma para um desconforto feliz que lhe sabia tristemente a amor. Teria morrido? Nunca sentira o pé tão próximo do abismo. Afinal, era isso o amor, um abismo que devora corpo e alma e deixa apenas o vazio de um mundo parado. Lá fora, as mariposas de Verão rodopiavam na janela e ameaçavam invadir-lhe o corpo em defesa do coração. Joana pensou então que, se o seu coração parasse nesse momento, o mundo continuaria a girar com as suas borboletas coloridas. E o mundo seria exactamente o mesmo sem si, inalterável na sua essência. Quem era, afinal, aquele rapaz que parara o seu mundo numa rua perdida de sentidos?
Silenciosamente, procurou no mistério de Indja as suas respostas. O amor é assim, Indja? Que poderes tem esse teu irmão para levar de mim todos os sentidos e os fazer dele? É assim o amor, Indja? Um monstro de curvas suaves que embala a loucura sem a ver? Os olhos passivos de Indja ofereciam apenas um sorriso mudo de sensações. É isso, Indja?
- Podes ver Adil quando quiseres. Despertou e está ainda no hospital. - Disse-lhe essa.
E quando o disse, Indja voltou as costas para se entregar ao mundo lá fora. O mundo de cores e sabores intensos que não pertenceria nunca a Joana. Quando abriu a porta, o mundo da portuguesinha voltou a mover-se, mas agora a estrela central ganhava nome… Adil. Quando tocou o primeiro degrau, Indja disse-lhe ainda:
- Ele disse que lhe sorriste naquele dia. E disse que jamais esqueceria a mulher de tal sorriso. Pois bem, não esqueceu… Há destinos que estão traçados, Joana.